sábado, 16 de abril de 2016

Erros históricos no filme Titanic de James Cameron

O filme "Titanic", dirigido por James Cameron e estreado nos cinemas americanos em Dezembro de 1997 é com certeza um dos maiores sucessos do cinema e o responsável por grande parte do interesse que existe ainda hoje na história do navio.

Embora o filme se centre mais na parte fictícia da história, os detalhes que usaram para reproduzir navio são de uma qualidade que nenhum outro filme anterior (e posterior) a ele conseguiu chegar perto; porém nem tudo condiz com a realidade. Nesse post veremos quais foram os erros do filme em relação ao Titanic.

1. Construções no porto

Nessa cena do filme Titanic, o hotel South Western House é visto ao fundo do porto,
do lado bombordo de onde o Titanic está ancorado. Construções como essa e o bar onde Jack 
venceu o jogo de pôquer nunca poderiam ter existido neste local.
Logo no começo da história de volta a 1912, a primeira cena mostrada é a do embarque de passageiros no porto de Southampton, Inglaterra. Um desses passageiros é a Rose, que junto com sua família e empregados embarcam no navio. Durante a ida deles do porto até o navio, é possível ver ao fundo construções, cuja uma delas remete ao South Western House, um hotel onde vários passageiros da primeira classe e oficiais do Titanic se hospedaram até o dia da partida (incluindo o capitão E.J. Smith). O erro é que o hotel não ficava ali, mas na direção traseira de onde o Titanic estava ancorado; na realidade não existia qualquer construção daquele tipo daquele lado do porto, apenas pequenos edifícios que faziam parte do complexo portuário.


Outro prédio que aparece na mesma direção é o bar onde Jack ganhou a partida de pôquer e o bilhete de embarque para o transatlântico. Esse bar nunca poderia ter existido ali, assim como o hotel, pois naquele local só havia obras que faziam parte das docas (que por sinal não eram tão largas a ponto de conseguirem abrigar construções como essas a uma distância tão grande do mar). É possível notar isso vendo uma fotografia aérea do porto:

2. O clássico Renault

De fato, uma das mais belas cargas que o Titanic carregava em seus porões era o clássico Renault Coupé de Ville, de propriedade de William Ernest Carter, um passageiro da primeira classe. 

Porém, em uma das primeiras cenas do filme é mostrado este carro (recriado especialmente para as gravações) sendo içado ao navio no mesmo momento em que os passageiros embarcam - o que não foi o que aconteceu. 

Parte da primeira cena em 1912 no filme mostra o famoso carro sendo posto no navio junto
com os passageiros - na realidade, o veículo já estava junto com as cargas 6 dias antes.
O automóvel só foi colocado no interior do Titanic 6 dias antes do dia da viagem, ou seja, no dia 4 de abril. Outro ponto interessante é que não se sabe ao certo se o carro estava desmontado ou montado dentro dos porões. O manifesto de carga do Titanic indica o automóvel como "1 CS AUTO" (1 caixa de automóvel), porém isso é tudo o que se sabe a respeito.

3. Cabine G-60

Logo após a partida do navio no porto de Southampton, é mostrado Jack e seu companheiro, Fabrizio, se alojando na cabine de número G-60, que no caso deveria ser ocupada por Sven e Olaf caso eles não tivessem perdido a aposta no jogo de poker. Acontece que essa cabine não existia no navio. 

As cabines numeradas com a letra G ficavam na popa do navio (as cabines iam da G-1 até a G-41), e apenas famílias e mulheres sozinhas poderiam se alojar nelas, enquanto que os homens solteiros (que era o caso de Jack e Fabrizio) se alojavam na proa, em cabines numeradas sem a letra G.

O quarto de número 60 se localizava no convés E, dois conveses acima, e era uma das cabines de primeira classe que poderiam ser usadas também como de segunda, mas não de terceira.

4. Margaret "Molly" Brown

À esquerda - fotografia real da milionária Margaret Brown, 1909; à direita -
Brown sendo representada em Titanic por Kathy Bates, 1997.
Quando o navio desce suas âncoras em Cherbourg, embarca no Titanic Margaret Brown, uma peculiar passageira da primeira classe e uma das personagens do filme. Rose narra que ela e sua mãe a chamavam de "Molly", porém Brown só começou a ser chamada deste jeito após sua morte, em 1932, sendo este um apelido póstumo.

5. Passageiros no castelo de proa 

Uma das cenas mais notórias e icônicas do filme (e do cinema) com certeza é a cena do "I'm the king of the world!", interpretada por Jack e Fabrizio bem na proa do navio. Porém essa cena nunca poderia acontecer na realidade, juntamente com a cena mais famosa de todo o filme - cuja fala "I'm flying, Jack!" interpretada por Kate Winslet é o ponto central - isso porque o acesso de boa parte do convés do castelo de proa do Titanic era proibido para passageiros a fim de impedir que eles acabassem se ferindo, afinal nesta parte do navio havia guindastes, âncoras, correntes e outras ferramentas pesadíssimas e perigosas. 

A placa com os dizeres "AVISO: PASSAGEIROS NÃO SÃO PERMITIDOS A PARTIR DESSE PONTO" informava as pessoas a não ultrapassarem o quebra-mar.
Uma placa localizada no quebra-mar do navio avisava que o limite para passageiros era ali, portanto somente a tripulação tinha autorização para ultrapassá-lo.

6. Almoço no Palm Court

Acima, foto do Palm Court do Olympic; abaixo, o mesmo lugar
reproduzido no filme de James Cameron
Rose é mostrada almoçando junto com sua mãe Ruth, Margaret, Cal, Bruce Ismay e Thomas Andrews em uma mesa do Palm Court, uma cena totalmente improvável de ter acontecido em 1912. 

O Palm Court era uma grande sala do estilo "café" localizada na popa do navio, aonde eram servidos somente lanches rápidos e refrescos aos passageiros da primeira classe. Quem quisesse uma refeição completa teria que ir em um dos outros três refeitórios do navio: o Salão de Jantar, o Restaurante A La Carte e o Café Parisiense. 

Outra gafe relacionada a isso é o tamanho das mesas. No filme, a mesa em que o pessoal da Rose almoça é bem maior das que existiam no Palm Court do navio, como mostrado ao lado.

7. Jack vai para a primeira classe

As leis sanitárias da época eram extremamente rígidas, e proibiam a mistura de classes em embarcações, seja qual for a circunstância. Em hipótese alguma um passageiro de terceira classe, como o Jack, poderia passear pelo convés de passeio, comer no Salão de Jantar, e nem visitar cabines de primeira classe, nem mesmo convidado por um passageiro de lá. 

8. O piano e os abajures 

Durante a refeição no Salão de Jantar da primeira classe é visto em todas as mesas um abajur no centro das mesmas, um objeto que na realidade nunca existiu nestes locais. A foto ao lado é a única foto do Salão de Jantar do Titanic que se tem notícia, em pleno serviço da refeição. Veja que há poucos objetos decorativos nas mesas, e nenhum deles inclui um abajur.

No momento do jantar também é possível ver e ouvir os músicos tocando seus instrumentos, incluindo o piano do Salão, porém esse piano só foi usado uma vez, e foi durante a missa na manhã de 14 Abril.

9. Impedidos pelos portões

Elevador para uso da tripulação no Olympic, irmão-gêmeo do Titanic. Havia
também portões como esse nos três elevadores da primeira classe,
localizado atrás de um outro portão, para a segurança dos passageiros.
Sem dúvida um dos maiores mitos que o filme de Cameron ajudou a espalhar é o de que os passageiros da terceira classe ficaram presos dentro do navio por inúmeros portões pantográficos trancados. O fato é que esses portões nunca existiram em tamanha quantidade no navio.

Pelas rígidas leis sanitárias da época, havia áreas bem separadas entre as terceira, segunda e primeira classes, mas essas separações dentro do navio eram feitas por paredes e portas que somente a tripulação poderia abrir, não com os portões que o filme "Titanic" mostra abundantemente.

Na realidade os únicos portões pantográficos existentes no navio ficavam nas áreas de acesso da tripulação (onde não havia tráfego de passageiros) e nos elevadores do navio, como mostrado na imagem acima.

As causas da morte de grande maioria dos passageiros da terceira classe foram a distância de onde se encontravam até o convés dos botes (muitos passageiros ficavam a mais de 7 conveses abaixo) e a falta de assistência da tripulação, além de que muitos deles eram imigrantes que não conheciam a língua inglesa, assim não conseguindo entender o que estava acontecendo no momento e não entendendo as instruções que lhe eram passadas.

10. "Desça o elevador até o final e vire à esquerda"

Quando Rose encontra Andrews e o pede instruções para chegar onde Jack está preso, ele a diz que é necessário pegar o elevador e descer até o Convés E e virar a esquerda, onde fica a passagem da tripulação. Acontece que se a Rose virasse à esquerda no navio real ela daria de cara com uma grande parede.

A imagem da esquerda faz parte do filme "Titanic", e a da direita faz parte do projeto "Titanic Honor and Glory", representando fielmente esta área do navio. Perceba que na realidade havia uma parede à esquerda dos elevadores, ao invés de um grande corredor, como mostra o filme.

Se não houvesse essa parede, os elevadores dariam acesso direto a "Scotland Road", um grande corredor de acesso da tripulação que ligava os dois extremos (popa e proa) do navio. Para acessá-lo, era preciso descer a grande escadaria da primeira classe e abrir uma porta de emergência à direita dela. O corredor também dava acesso ao salão de jantar da terceira classe.

11. Entre a terceira e quarta chaminés


Com certeza uma das cenas mais emocionantes do filme é a qual o Titanic é mostrado partindo-se em dois e desabando em cima de centenas de pessoas que lutavam para sobreviver na água congelante. Embora a cena represente um momento real, ao que tudo indica o navio partiu-se entre a segunda e a terceira chaminés enquanto afundava, não entre a terceira e a quarta como mostra o filme.

O mapa dos destroços no fundo do oceano deixa evidente que o navio foi separado bem na metade de seu comprimento durante o naufrágio:

O mapa dos destroços da proa explicitam que o navio se partiu em dois logo
após a segunda chaminé, não após a terceira.
Em 2012 dois documentários (100 Anos de Titanic por James Cameron, da National Geographic, e Titanic: Mistério Resolvido, do The History Channel) apresentaram em seus conteúdos simulações mais atuais do naufrágio, dessa vez mostrando o Titanic se partindo entre a segunda e a terceira chaminés. Veja-as (em inglês): 

Simulação da National Geographic:


Simulação do The History Channel:

2 comentários:

SIDNEI RODRIGUES disse...

O que falar então dos tubos de PVC no interior do Titanic ? Esse material substituiu as manilhas de cerâmicas usadas nas redes de esgoto das residências somente no começo ou meados da década de 70. Quando o navio colide com o iceberg voam cacos de tubos de PVC para todo lado. Se não estou enganado, no começo do Filme, Jack aparece fumando um cigarro com filtro, que também não existia naquele tempo. Numa determinada tomada de cena, aparece ao fundo uma ilha. Não existia nenhuma ilha na rota do navio.

SIDNEI RODRIGUES disse...

O que falar então dos tubos de PVC no interior do Titanic ? Esse material substituiu as manilhas de cerâmicas usadas nas redes de esgoto das residências somente no começo ou meados da década de 70. Quando o navio colide com o iceberg voam cacos de tubos de PVC para todo lado. Se não estou enganado, no começo do Filme, Jack aparece fumando um cigarro com filtro, que também não existia naquele tempo. Numa determinada tomada de cena, aparece ao fundo uma ilha. Não existia nenhuma ilha na rota do navio.

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