terça-feira, 10 de março de 2015

A verdadeira história do Titanic - A construção

Quando ouvem a palavra "Titanic" muitas pessoas apenas imaginam o naufrágio e o filme de James Cameron, de 1997. Poucos sabem a verdadeira história por trás do transatlântico.

Pois então, vamos conhecê-la?

A construção


Titanic em seus últimos momentos no estaleiro

O final do século do XIX e começo do XX foram tempos de ascensão e popularização dos grandes navios transatlânticos. Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha travavam uma guerra para ver quem construía os maiores, mais rápidos e luxuosos navios de todos os tempos.

Dentro deste cenário, duas empresas rivalizam ferozmente entre si: Cunard Line e White Star Line eram as empresas que mais cresciam nesse ramo, porém a Cunard estava na liderança. Ela era proprietária dos navios que atravessaram o Atlântico em tempo recorde, como o Lusitania, que em 1907 conseguiu atingir a marca de 23,61 nós (43,72 km/h) no mar, algo incrível para a época.

Bruce Ismay, diretor da White Star Line e um dos 705
sobreviventes do naufrágio do Titanic.
Em 1907, num jantar na mansão de William Pirrie, presidente dos estaleiros aonde os três navios da classe Olympic (Olympic, Titanic e Britannic) foram construídos, o diretor da White Star Line, Bruce Ismay, foi convencido a transformar em realidade os planos de construir dois navios transatlânticos com 45.000 toneladas cada. O objetivo não era ultrapassar a Cunard Line em marcas de velocidade, mas em tamanho, padrão das acomodações e serviços de bordo.

William cuidou de supervisionar todo o trabalho dos desenhistas navais, sob as ordens de seu sobrinho, Thomas Andrews - diretor administrativo -, e do engenheiro-chefe do estaleiro, Alexander Carlisle, que também era cunhado de Pirrie. A relação entre os dois era tensa.

Os navios foram projetados para terem 268,83 metros de extensão e 28,04 metros de largura, dispondo de 4 chaminés, embora só fossem necessárias 3 para expulsar a fumaça das caldeiras. Em cada um dos navios, os dois motores alternados de quatro cilindros possuíam engrenagens de propulsão, com uma potência de 15.000 HP. Ao invés de expulsar o vapor liberado pelos motores pelas chaminés, foi decidido que ele seria reciclado a fim de movimentar uma turbina Parsons de baixa pressão, montada junto ao eixo do navio que movimentaria uma terceira hélice de quatro pás.

Em Julho de 1908, com o projeto pronto, a Harland and Wolff (proprietária dos estaleiros) pôde então apresentar uma proposta formal aos diretores da Oceanic Steam Navigation Co - proprietários nominais da White Star Line -, que aprovaram com harmonia a construção dos navios. O terceiro navio da classe apenas seria apresentado em 1911, e havia planos para se chamar Gigantic, mas por causa do posterior naufrágio do navio-irmão foi escolhido o nome Britannic. Este por sua vez teve um final parecido com o do Titanic, quando atingiu uma mina no Mar Egeu e naufragou, levando consigo 21 vidas.

Com uma reforma intensa nos estaleiros e a criação dos maiores pórticos que o mundo já viu, o que gerou um custo do que seria hoje mais de 11 milhões de dólares, finalmente começaram os trabalhos nos navios, em Belfast, capital da Irlanda do Norte. Em 16 de Dezembro de 1908, o Olympic teve sua quilha registrada com o número 400, enquanto o Titanic teve a sua com o número 401, em 31 de Maio de 1909.

Estaleiro sendo reformado para abrigar a construção dos novos
transatlânticos.
Em cada navio, mais de 3 milhões de rebites pesando 1.369 toneladas, colocadas uma a uma por mãos humanas, mantinham fixadas as 2 mil placas de aço de 10 metros de comprimento por 2 de largura, cada uma com 3 cm de espessura e pesando 3 toneladas.

Em Março de 1910, um ano depois do começo da construção do Titanic, Alexander Carlisle travou uma briga com lorde Pirrie. A causa era que Carlisle havia encomendado um número muito maior de botes salva-vidas para o Titanic do que William havia autorizado, 16, que era o número mínimo exigido por lei para navios com mais de 10.000 toneladas. O resultado disso, além da causa da morte de centenas de pessoas no naufrágio, foi a saída de Alexander da White Star Line. O Titanic foi o último navio que ele projetou. Em seu lugar William Pirrie colocou seu sobrinho, Thomas Andrews.

O trabalho nos dois navios foi relativamente rápido graças ao uso do maior guindaste da época, capaz de içar e arrumar os milhares de toneladas de chapas de aços e vigas-mestras usados na construção, e do árduo trabalho de mais de 4.000 trabalhadores em cada um dos navios, que trabalhavam 24 horas por dia no estaleiro. Com a contratação de mais de 3.000 operários para trabalhar nos navios, a White Star elevou seus gastos com o salário dos trabalhadores ao equivalente hoje a 3 milhões de dólares por semana.

Com a extrema falta de segurança dos trabalhadores, 17 homens morreram na construção dos dois navios.

Em Outubro de 1910 o Olympic já estava pronto para ser lançado na água, e o lançaram no dia 20 daquele mês. O Titanic foi lançado no dia 31 de Maio de 1911. Durante a retirada das toras de madeira que suportavam o Titanic durante a construção, uma delas se partiu e esmagou um dos trabalhadores, James Dobbins. O navio já havia tirado mais uma vida antes mesmo de entrar na água.

Momento exato em que o Titanic toca a água do mar pela primeira vez.
Às 12h30, o Titanic completou sua descida do estaleiro ao mar em exatos 62 segundos, e junto à proa, em uma área especial no estaleiro destinada aos convidados VIPs - incluindo J.P. Morgan e Bruce Ismay - ignorou-se a tradição de "batizar" o navio quebrando uma garrafa de champagne em seu casco. De lá, após a descida do navio, os convidados foram levados a Queen's Island, onde Lorde Pirrie os recepcionou com um lauto banquete antes de embarcarem no Olympic para voltarem a terra firme.

Última vez que os navios-irmãos são vistos juntos. Na ocasião,
o Olympic foi levado para o mesmo local onde o Titanic
estava sendo concluído, para o conserto de seu casco após a
colisão com o HMS Hawke, 
Já na água, os transatlânticos foram levados para o dique seco de Thompson (especialmente construído para abrigar os novos navios), aonde ocorreu a fase do acabamento, colocando-se os mastros, as chaminés, as 29 caldeiras e a maquinaria. Ao mesmo tempo, uma tropa de carpinteiros, eletricistas, soldadores, bombeiros hidráulicos e outros operários especializados cuidava de aprestar as acomodações prestadas aos passageiros e aos tripulantes. Apesar de toda magnitude do trabalho, os navios foram concluídos em um tempo relativamente pequeno: o Olympic demorou 7 meses, e o Titanic 10 meses. Isso porque acidentes envolvendo o Olympic atrasaram as obras em seu navio-irmão, como a colisão com o HMS Hawke (em Setembro de 1911) e em um banco de areia não mapeado a leste dos Grand Banks (em Fevereiro de 1912). O fato do transatlântico permanecer flutuando normalmente e seguindo viagem mesmo com as inundações que sofreu ajudou a aumentar o mito que o trio da classe Olympic fosse inafundável.

O Titanic na fase de acabamento, já com as quatro chaminés instaladas
assim como os mastros. Perceba que o convés de passeio no convés A ainda
está descoberto.
Em Janeiro toda a carcaça do Titanic estava pronta, mas ainda havia muito o que fazer internamente. A semelhança entre o Olympic e o Titanic era tão grande (quase impossível de notar) que houve muitas confusões, por exemplo, em cartões-postais, onde ao invés de mostrarem o Titanic mostravam fotos ou instantâneos de seu navio-irmão e vice-versa. Essa confusão foi amenizada quando nos estágios finais de acabamento foi decidido que o Titanic teria seu convés de passeio (no convés A) parcialmente fechado com telas emolduradas em aço para proteger os passageiros das possíveis intempéries do tempo que o navio enfrentaria. Também foi acrescido ao navio novas cabines de primeira classe no convés B, o que aumentou seu peso em algumas centenas de toneladas, tornando-o assim mais pesado que o Olympic e, consequentemente, o maior navio do mundo.

O Titanic estava programado originalmente a ser concluído em Março de 1912, e sua viagem inaugural no dia 20 desse mês, mas com os imprevistos ocorridos a sua viagem foi adiada para o dia 10 de Abril. Antes disso, no dia 1 de Abril, estavam marcados os testes marítimos, porém também foram adiados graças ao mau tempo. No dia 2 de Abril, numa terça-feira, a embarcação deixou seu local de nascimento e se movimentou pela primeira vez com a força de suas próprias máquinas. Ele foi retirado do ancoradouro por quatro rebocadores às 6h00hrs, até um ponto fora de Carrickfergus. Dali, os rebocadores se soltaram do navio e o lançaram no mar aberto da Irlanda, onde foi feito um rigoroso programa de testes de máquinas, da engrenagem de direção, velocidade, paradas súbitas etc.

O famoso transatlântico se movimenta pela primeira vez com a força de suas máquinas, seguindo mar adentro para os testes marítimos na costa da Irlanda.

Após quatro horas de testes, o navio abaixou âncora até retornar ao braço de mar de Belfast, onde permaneceu atracado até o embarque das últimas provisões e a saída dos operários do navio.

Thomas Andrews, engenheiro-chefe do Titanic e uma das
mais de 1.500 vítimas fatais do naufrágio.
Para a viagem inaugural, a Harland and Wolff designou um grupo composto por Thomas Andrews, Edward Wilding e uma equipe de nove especialistas para se disponibilizarem a ajustar e solucionar quaisquer problemas que viriam a aparecer a bordo. Com exceção de Wilding, todos eles morreram no naufrágio.

Com a assinação do certificado oficial de navegabilidade do Titanic pelo inspetor do Board of Trade, Francis Carruthers, e a troca de documentos e o cumprimento de outras formalidades, o Titanic desatracou pouco depois das 20:00hrs de Belfast até chegar ao seu porto em Southampton, pouco antes da meia-noite de 3 de Abril. Nesta viagem, o Titanic chegou a atingir 23,25 nós (43,05 km/h) a maior velocidade que ele jamais alcançou.

Chegando no porto, cinco rebocadores estavam à espera, a fim de colocá-lo no meio da corrente do rio, manobrando sua popa na direção do ancoradouro 44 da White Star, da onde ele partiria para sua primeira e última viagem.